Ultimamente tenho pensado muito acerca dos breves momentos que rodeiam nossa existência. Sobre o quão chato pode ser querer convencer um cabeça dura de algo... Sobre a infinita beleza que há no sorriso de uma criança grata ou, simplesmente, como é bonito o hábito de dar um "eu te amo" antes de dormir pra alguém.
Muitos são os sentimentos que provamos diariamente mas poucos são tão renegados quanto o poder do ódio. Não tô falando daquela raivinha que você sente quando toma uma fechada no trânsito ou quando tá na fila do ônibus e vê alguém furando fila... Tô falando de ódio mesmo. Sentimento visceral que consome qualquer resquício de bondade que tua religião te ensina.
Aquele Que te faz entender o mesmo sentimento que motivou Caim em seu ato. Claro que Caim teve inveja de Abel mas é válido ressaltar que esse é o primeiro ato bíblico que faz menção a algum tipo de ódio. Isso, claro, na humilde opinião deste Oficial que vos escreve.
Tenho que relembrar também... Será que havia algum sentimento de ódio em Júlio Cesar quando estava sendo esfaqueado? Obviamente que ele estava surpreso com o ataque mas acredito que deve ter sentido um misto de decepção e ódio após perceber que estava sendo apunhalado.
Que dizer então de quando ele caiu de joelhos frente à estátua de Alexandre O Grande e percebeu que, na idade que possuía, Alexandre conquistara meio mundo. Sendo assim.... Será que ele teve algum sentimento de ódio por si mesmo? Além da decepção com o próprio rendimento enquanto homem público?
Que tal lembrarmos do episódio que, após a ajuda dos Guerreiros Númidas, Aníbal Barca acaba por vazar o próprio olho para exemplificar à tropa que nem mesmo uma grava infecção seria capaz de detê-lo? Tenho quase certeza que ele estava com ódio incrustado em cada fibra de seu corpo. Ódio pela fraqueza de soldados debandando. Ódio pela infecção ter atacado num ponto tão sensível. Ódio pelo lamaçal do pântano ter dizimado boa parte de sua cavalaria (curiosamente, Elefantes adestrados pra guerra).
Não tenho dúvidas que o Ódio é um dos sentimentos mais genuinamente humanos que possam existir. Embora ele possa ser cultivado num coração ressentido, é em momentos de extrema dificuldade ou frustração que ele consome o íntimo de cada um e desvela todo seu potencial de forma implacável.
Como requisitar calma e urbanidade de um pai que se depara com o indivíduo que estuprou sua filha? Ou que dirá do homem que encontra o latrocida que matou sua esposa?
Não há o que discutir. Embora seja um sentimento "renegado" das poesias e textos clássicos, esse é um dos sentimentos que movem o mundo como ele é. E, em muitos casos, uma análise fria nos faz colocar panos mornos sobre os atos daqueles que, mesmo por um instante, foram odiosos. Vide os exemplos que dei sobre o estuprador e latrocida.
Para expandir o raciocínio, deixo os seguintes trechos de textos desses autores consagrados:
O ódio é o prazer mais duradouro. Os homens amam com pressa, mas odeiam com calma.
-Lord Byron
Onde não intervém o amor ou o ódio, a mulher sai-se mediocremente.
-Friedriech Nietzsche
Notem que o ódio é retratado de maneira similar a esta que vos transmito. Obviamente que não vos transmito a ideia com a desenvoltura dos autores consagrados mas o esforço deve ser reconhecido.
Vejam que Lord Byron traduz exatamente o romantismo presente no ódio que eu quero passar pra vocês. Odiar é um prazer que deve ser lento e consumido com requinte. O fato de amarmos de forma rápida creio que faz menção à paixão fulminante que acomete aqueles que hão de desenvolver um amor mais estável... O ódio, entretanto, tende a permanecer no coração dos homens como uma simbiose que, caso separada do hospedeiro, faz esse perder o rumo das coisas. O ódio como um prazer tende a tornar o hospedeiro um dependente pois é o único instrumento de realização para aquele que não depreende sentimentos bons em relação a uma pessoa ou situação.
Assim, temos que o ódio é vital para todos. Mesmo para os odiados, ele pode ser o sinal da maior desgraça ou, para muitos, o antecedente da justiça feita com as próprias mãos.
Quanto à frase de Nietzsche, vejam que elenca-se um dos nossos maiores vícios enquanto homens: mulheres.
Notem que as maiores armadilhas pro coração do homem quanto às fêmeas dizem respeito aos sentimentos que mais nos tornam Homens: amor e ódio.
O homem, se não for dominado pelo amor (Eros, PRINCIPALMENTE), tem que estar atento aos delírios que o Ódio desenfreado pode causar. A partir do momento que o homem já age motivado APENAS pelo ódio, já não há mais o autodomínio. Este é nossa espinha dorsal de uma vida bem vivida. Apenas isso: autodomínio.
Para exemplificar o que quero demonstrar pros senhores, vejam a pintura "o anjo caído" (1868), de Alexandre Cabanel que retrata Lúcifer após ser expulso do céu por revoltar-se contra Deus.
O autor dá grande importância à forma anatômica do personagem já que quer representá-lo como era conhecido, como o anjo mais belo de todos.
São muito interessantes os detalhes dessa arte, Lúcifer esconde o seu rosto, parecendo não querer demostrar a dor que sente diante dos anjos que circulam sobre ele. Deste modo, a sua expressividade fica recolhida no olhar, cheia de raiva, ódio e rancor.
Notem bem o olhar. Parem, respirem. Se estiverem vendo no celular, coloquem com brilho máximo... Vale a pena.
Nessa obra prima, o tinhoso derrama uma lágrima de tamanho ódio. O cenho se fecha e revela a previsível consequência que há de vir: desejo por vingança. O resto da história já conhecemos.
Minha proposta, meus amigos da finansfera é trazer uma visão um pouco diferente.
Em todos os exemplos citados... Julio César, Aníbal, Caim... O próprio Lúcifer!!! O ódio não vem sozinho... Sempre há inveja, ressentimento, decepção....
E que tal modificarmos isso? Pegarmos essa força odiosa e canalizar isso pra acabar com a vida de merda que 90% da população tem?
É o sujeito se olhar no espelho e ter ódio de quem ele se tornou. Um cara com mais de 20kg que deveria ter, que acorda às 4 da manhã todo dia pra pegar ônibus lotado, usando merda de máscara num ônibus lotado e voltando umas 20h pra casa pra ser recebido por uma mal agradecida e por filhos que ele nem tem certeza que são dele.
O ódio seria OTIMO!!! Ele se livraria desse bosta que se tornou e passaria a ter um shape apresentável, Um emprego melhor E assim por diante...
Os melhores momentos da minha vida em questão de realização profissional foram motivados pelo ódio que eu tinha da situação em que me encontrava.
Será que sou o único ou isso pode se tornar um novo modo de levar a vida? O que acham? Funcionaria com vocês?
Obrigado, pessoal!! Um forte abraço!!
Intendência!!!